Por: Washington Araújo
Os 20 mil soldados norteamericanos no Haiti, país com 9 milhões de habitantes perfaz proporção superior às forças conjuntas dos Estados Unidos e da OTAN no Afeganistão nesse primeiro ano do governo Obama: 70 mil para uma população de 28 milhões.
A repórter se aproxima, cria o suspense básico, informa que tem uma pessoa soterrada a menos de três metros de seus pés, aumenta o suspense carregando aflição na voz, aproxima o microfone do chão sem deixar de dizer que “já posso ouvir a voz de uma pessoa, de uma mulher, tem uma mulher aqui embaixo!” Quantas dessas cenas não assistimos nas últimas semanas? É inegável que havia compaixão nas cenas gravadas pela repórter. Também é inegável que ela já intuíra que aquelas cenas iriam ocupar o melhor espaço na escalada de notícias da noite, levadas ao conhecimento público por seu principal telejornal. Reportagens como esta correram o mundo e imagens das vítimas, vivas ou mortas, fizeram o mesmo trajeto.
Foi assim que o mundo tomou consciência da existência do Haiti. Em nosso imaginário o Haiti assume as feições de pessoa ferida, impotente, entre a vida e a morte, cercada por destroços de construções e também nas informações dando conta que 150 mil a 200 mil pessoas morreram no país em decorrência do terremoto do dia 12/01/2010. As imagens na televisão capturam aquela poeirinha fina, agregando ao ar respirado partículas de areia, cimento e cal. Repórteres incluem em suas matérias frases, antes impactantes e agora absolutamente normais, óbvias como: “Aqui, no que foi um prédio de 6 andares, deve haver algumas centenas de pessoas soterradas” ou frases mais elaboradas e não menos dramáticas como “Estamos em um imenso cemitério... Porto Príncipe está todo assim!” A linha que separa jornalismo de sensacionalismo foi, é e continuará sendo tênue, muito tênue.
Nos últimos 21 dias o trabalho da imprensa se resumiu a mostrar imagens da destruição da capital haitiana. Devastação e caos. Resgate das vítimas. Ajuda humanitária a caminho. A cobertura brasileira abriu capítulo especial: estamos de luto também por Zilda Arns, Luiz Carlos da Costa e mais 19 militares que atuavam na Força de Paz mantida pela ONU em Porto Príncipe. A imprensa potencializou as dificuldades do país: para lidar com sua reconstrução e demonstrou que o país caribenho apresentava sérios ´defeitos´ de construção.
FONTE: http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4537